Seleções africanas falham nos planos
MUDANÇAS CONSTANTES DE TREINADORES E PROJETOS TRAVAM PROGRESSOS
Esperanças utópicas, caos nas federações e constante rotação de treinadores: esse é o diagnóstico de muitos peritos do futebol internacional para explicar os problemas das equipas africanas no Mundial. Basta um pequeno episódio para o alemão Otto Pfister apontar o problema. "No primeiro jogo dos Camarões, ao lado do treinador estava sentado um agente de jogadores. Não pode acontecer", diz indignado o técnico.
A verdade é que no primeiro Mundial no continente as equipas africanas não conseguem cumprir os prognósticos de serem a próxima potência. "Imagino que nenhum treinador sobreviverá ao torneio", profetiza Pfister, ex-selecionador dos Camarões e do Togo. Já só o Gana pode evitar pelos próprios meios cair eliminado.
Os problemas, como no passado, nascem do nada. Poucos meses antes do início do Mundial, Nigéria e Costa do Marfim contrataram treinadores suecos com novas táticas. "Vê-se que os marfinenses têm um jogo defensivo totalmente contra a sua maneira de ser. Não conseguem misturar as raízes africanas com a disciplina europeia", explica Stielike, que treinou a Costa do Marfim.
Desde o Mundial'2006, as 6 equipas africanas na África do Sul contrataram 24 preparadores. Só a Costa do Marfim teve quatro treinadores em... dois anos. "Há que planear a longo prazo, para que todos se possam habituar a mentalidades diferentes. Em tão pouco tempo é impossível chegar ao coração dos jogadores", reforça Stielike.
Em 1990, os Camarões entraram na história ao serem a primeira equipa africana nos quartos-de-final de um Mundial. Winfried Schafer, o homem que os guiou, sublinha: "Disse-o há muitos anos. Se a organização, a regulação de todo o trabalho e a contratação do técnico for a adequada, dispondo de tempo para trabalhar, então uma equipa como a Costa do Marfim, a Nigéria, o Gana ou os Camarões poderá chegar a uma final." E Schafer diz porque falham. "Os africanos só pensam no hoje. Enquanto for assim..." A ver vamos.
Por FLORIAN LÜTTICKE. DPA
In Record, Edição de 23 de Junho