sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Quando o dinheiro não é tudo...

Ezequiel Paulón é o Seleccionador Nacional e o que não lhe falta é experiência internacional.
Desceu do «top» mundial para a realidade portuguesa e, à Tribo do Hóquei, apontou o caminho do sucesso.

Tiago Marques

Foi internacional pela Argentina, e ainda actuou em Espanha e na Holanda antes de abandonar a carreira de jogador. A primeira paragem desta nova fase da carreira foi Portugal e aqui conheceu uma realidade diferente mas com algumas coincidências com o que viveu na Argentina, uma das quais, a falta de dinheiro: “A evolução da modalidade e os resultados não dependem unicamente do dinheiro. É uma questão importante e que condiciona mas o importante, no caso de Portugal, é usarmos o pouco que temos e investi-lo bem. Venho da Argentina, um país onde também não há muito dinheiro. No entanto, a selecção feminina é campeã do Mundo e os homens foram sextos no «ranking» da Federação Internacional durante muitos anos. Acima de tudo, é preciso uma mudança cultural”.
Como Seleccionador Nacional, cabe a Ezequiel Paulón ajudar a melhorar o nível do hóquei em Portugal. Ainda assim, para atingir esse objectivo, o trabalho do treinador é também reflexo do que se consegue ao nível dos clubes: “Há clubes que estão a trabalhar bem e há outros que têm que melhorar a forma de trabalhar. O bom é que há muita gente interessada e com vontade de trabalhar mas é necessário treinar melhor. O treino do hóquei é algo já muito estudado lá fora, quer ao nível das selecções, quer ao nível dos clubes. Falta aqui algo mais científico e profissional no treino. Do que tenho visto, é preciso um treino mais relacionado com o hóquei actual”. Por isso, Ezequiel sublinha que, na sua organização, os clubes têm que ajudar a essa evolução: “Eles têm que dar um passo em frente. É vital para eles que os futuros treinadores tenham a capacidade de formar mais e melhores jogadores. Enquanto não se der esse passo, o hóquei português vai ter dificuldades em se erguer”.
A este ponto da conversa, algo parecia bem claro: a ausência de treinadores em Portugal: “De oito equipas de seniores masculinos, a maior parte não tem treinador. É uma situação preocupante e revela que é decisivo que as novas gerações de treinadores comecem a aparecer”. O problema é que “os futuros treinadores são os actuais jogadores” e grande parte destes elementos ainda são essenciais dentro do campo: “Está a terminar uma geração com muita qualidade mas, para já, não podem deixar de competir enquanto jogadores”.
Ainda assim, para o treinador argentino, “há gente que está a aproveitar a vinda de treinadores internacionais”, o que até pode ser positivo uma vez que está a surgir uma nova geração de jogadores de qualidade: “Há uma base de jogadores com menos de 18 anos que se continuarem a trabalhar e se der continuidade ao trabalho que se está a iniciar, no futuro, podem substituir a geração que agora está a terminar. Esta geração actual tem muitos bons jogadores mas já estão na fase final da carreira desportiva e já não dedicam tanto tempo aos treinos, quer por falta de vontade, quer por questões profissionais ou familiares. Agora há que trabalhar a geração mais nova”.
O treinador foi galardoado com o prémio de Treinador do Ano para a Federação Portuguesa de Hóquei, uma distinção que o deixou “muito contente muito orgulhoso” destacando ainda assim que o importante é “que os projectos tenham continuidade independentemente de quem os lidera”.